quinta-feira, 19 de junho de 2014


Quero, no último dia de vida, perceber que é o último.
Quero sair da nossa cama pelo meu pé e com as mãos a tremer da força e do peso de uma vida, ir buscar à gaveta um bloco daqueles que colecionei a vida toda para escrever notas que nunca escrevi e uma caneta bic roída. Vou somar todos os momentos. Quero somar todas as noites que dormi contigo e contar muitas. Umas 10950, pelo menos. Quero contar também todas aquelas em que sonhei que ia acordar a teu lado e em que tu ainda não estavas lá. Foram essas que me deram esperança para acreditar que as outras iriam acontecer, mais tarde ou mais cedo.
Quero deixar-te um bilhete a agradecer por teres tido a maior de todas as coragens. Esta de arriscar tirar o amor do pedestal e trazê-lo para a terra, onde ele morre ou vive para sempre. Quero relembrar-te que foi difícil deixar tudo para sermos tudo mas que, afinal, no final, valeu a pena.
Não ouses partir antes. Não te poderia agradecer a pena de ter de morrer.

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