domingo, 18 de janeiro de 2015

Casa.

E fosse eu um gato escondido nos trevos
um nome inscrito na pedra
ou a romãzeira brava.

Fosse eu o sol por entre as folhas
ou a água fresca do poço.

Fosse o estalar dos galhos
ou o silencio da noite,
fosse as sombras,
as estrelas sem a luz
ou o medo do escuro.

Fosse o frio no inverno
depois da lareira e das portas trancadas.
Fosse o cheiro das laranjas,
as uvas azedas e envergonhadas .

Fosse as ultimas ameixas 
em cada ano que passava

Fosse as corridas de bicicleta
pelo corredor de pedra
ou a dos pés desatentos 
pelos caminhos da água.

Fosse o sótão, o presépio 
ou a casa da pesca
fosse a caixa de amendoins 
ou o quarto azul-escuro.

Fosse a caixa de postais 
ou o monge das caldas
os teus bifes secos
e as espirais com coentros.

Fosse a pia de lavar as mãos 
na cozinha da lareira
fosse a panelinha de esmalte 
e o armário do pão,
fosse o galo do tempo 
ou o telefone de roda,
fosse o alpendre das galinhas 
e a lúcia-lima em flor.

Fosse as sardinheiras ou as roseiras,
ou mesmo as sombrinhas chinesas,
fosse a cruz do Jacob
entre os maracujás e as tangerinas,
fosse as carpas e o Bobi.

Fosse os portões vermelhos e o tanque
fosse a terra, seca,
 ou a terra por secar.

Ah! Fosse eu tudo isto 
e tudo isto me suspendesse
não seriamos só o pouco tempo que resta.
Nem o tempo que foi.
Não seria vazia
nem degradação
seria Esperança
e seria Eu.
E nós.
E a cada dia
Naquele pedaço de terra
Reviveria 
Uma vida inteira.


Um comentário:

Anônimo disse...

Tocante.

Manel