terça-feira, 29 de março de 2011

Bela Serrana fala ao trovador.

Madrugada alta e a luz da lua, entrando pela janela testemunha de que não durmo tranquilamente há várias noites. Inquieta e febril, revolto o corpo por entre os lençóis macios e anseio calidamente por ti. O silêncio da noite sabe dos meus gemidos tímidos e deixa-me ouvir um cantar distante que sobe ao fundo da rua. Devaneio se serás tu que te esgueiras até aqui na possibilidade remota de me ter pelo vidro da janela. Temendo ouvir estes meus desejos recônditos, cubro a cabeça com a almofada de linho branco mas a melodia continua a subir e a embriagar o meu quarto. Envolvo o corpo desnudo e trémulo e espreito pela brecha da janela. Aí estás tu, em desejo e osso e carne. Chamas por mim baixinho e sabes que te espreito, a medo de ser descoberta. A clausura não me permite mais do que sonhar-te em mim embora gostede te ver arriscar. Abro a janela em surdina e atiro-te um lenço com palavras lânguidas que evocam a avidez que será mais tarde consumada. Sabes que não posso descer e que não podes subir.

Desejo-Te.


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