terça-feira, 6 de novembro de 2012

Despedida - Silencios(a)mente


É tanto o silêncio e eu (já) não te consigo ouvir.

A CAMA. A CAMA. NÃO. O QUARTO. A TORNEIRA. A CAMA. PING. PING. PING.
NÃO. O QUARTO. O SOALHO. A CAMA. NA CAMA. NA CAMA. A TORNEIRA. AS CHAVES. NA PORTA. NÃO. NÃO. TU. A CAMA. NA CAMA. EU. EU. EU. Vens? Não vens? Mais logo? Amanhã? Hoje? Ainda? Às 2h? Às 3h? São 6h da manhã e ainda te espero para jantar. NÃO. Para ir ao café. NÃO. Ao cinema. A última sessão. NÃO. NÃO. Pára. Pára. Já CHEGA. Já não há sessão. São seis horas da manhã e ainda te espero.

Para nada.

E tu? Nada.

NÃO. NÃO. NÃO. TU?

Nada. Silêncio (enquanto balão esvazia)

Voltas. Um poema. Uma canção. Meia dúzia de palavras, as suficientes. Muitos sorrisos. Olhos nos olhos e silêncios. Dos bons. Dos que se conseguem ler. Cheios.

Mas tu és como as marés. Quanto mais enches, mais esvazias e vais. Na boleia de um camião de lixo. Onde deitaste fora os meus restos.

Eu fico a Encher. Encher. Encher. Encher. (enquanto o balão enche). Engulo para guardar.
 
(texto da performance Despedida inserida no ciclo de performances Silencios(a)mente, versão original Agosto 2011)

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