domingo, 7 de agosto de 2011

Adaptação anti-epicurista de Vem Sentar-te, Lidia, à beira do rio. Porque ler também é mexer nas palavras.

Levanta-te daí, da beira do rio.
Que eu não sou Lídia nem tu Ricardo Reis!
Por isso, não vivamos na espera.
Enlacemos as mãos e cansemo-nos,
Rememos por este mar contra o Fado, que
As Tágides nos ajudarão e
De certo encontraremos,
Aquele lugar onde os deuses brincam, nus, como crianças adultas.
Aperta-me as mãos nas tuas!
Pois vale a pena cansarmo-nos por
beijos,
abraços,
carícias.

Podemos manter o silêncio daqueles que apenas vêem passar.
Mas amemo-nos! Sem medo!
Vamos brincar:
Colhamos flores, pega tu nelas e deixa-as
No colo, e que o seu perfume intensifique o momento -
Este momento em que sossegadamente cremos em tudo e arriscamos.
Em segredo,
Sem nada dizer,
Põe-me uma flor das que colheste no cabelo.
Uma flor qualquer daquelas que eu não apanhei.
Ou uma de papel, dessas que fazes com os dedos trémulos
enquanto o cigarro se consome lentamente no canto da boca. Em silêncio,
Sem nada precisar(mos) dizer
Eu vou entender que não temeis mais viver nesta regata.
Arrisquemos!
Não temeremos
o calor de quando os nossos olhos se encontram,
a ternura que toca os nossos lábios,
ou a magia que nos rodopia
quando à luz da lua dançamos.
Arrisquemos!
E Eu nada terei que sofrer ao lembrar-me de ti.
Ser-me-ás na memória, lembrando-te assim
a remar comigo num alguidar pelo Tejo.
Meros Pagãos, Semi-Deuses guerreiros que lutam contra a passagem do rio,
Com flores no regaço.


Não quero ser-te suave à memória.
Quero ser intensa em ti.

2 comentários:

Rute Teixeira disse...

Epicurista ou anti, há algo em comum a ambos os textos: são uma busca incansável pelo prazer idealizado, perfeito, supremo! O modo da procura é que,como não podia deixar de ser, é qualitativamente diferente :) Diria que reflecte os tempos modernos ;)

Noise disse...

O quanto eu gosto de ser Ricardo Reis.. o texto original estudei na escola claro, realmente bom texto, gosto muito.

Presumo que seja uma adaptação tua, muito bom também. Começo a perceber melhor a tua 'cena', está realmente bom! E o final é muito forte..

"Não quero ser-te suave à memória.
Quero ser intensa em ti."

parabéns!