segunda-feira, 1 de julho de 2013

A balança


Ana tinha sempre um sorriso nos lábios. Muita gente perguntava-lhe porque estava sempre a sorrir e ela contava sempre a mesma história, que vos passo a descrever.

Desde pequenina que ia para a mercearia da avó, uma daquelas mercearias a sério em que o café é a avulso, as encomendas embrulhadas em papel manteiga e as medidas pesadas numa balança de pesos. Tudo feito à mão com muito carinho e sem pressas.

Era, aliás, da balança que ela mais gostava. Primeiro, quando mal se aguentava em pé e até lhe nascerem os segundos dentes, entretivera-se a ver os pratos balouçar, poisando o que aparecia no balcão ora num, ora noutro prato da balança.
Quando entrou na escola, a balança começou a ensina-la a aprender os números, a contá-los e a chamá-los pelos nomes.

Com o tempo foi aprendendo a pesar.


Descobriu rapidamente que preferia um quilo de cerejas a um quilo de laranjas, embora um quilo de laranjas, quando na época, desse bastante sumo. Assim como percebeu que 4 pêssegos grandes pesavam cerca meio kilo e que isso não chegava a um quarto do peso de um ananás.

As pessoas achavam graça à sua forma de pesar os produtos e ela ia desenvolvendo uma mestria na pesagem que poucos igualavam.

A balança ensinou-lhe mais do que matemática.

Aos poucos e com o seu próprio conhecimento do mundo, foi desenvolvendo aquilo a que chamou “pesagem abstrata” e que consistia em pesar situações chave da sua vida, tal como pesava as frutas da mercearia da avó quando era pequena.

Pesava com precisão tudo aquilo com que se questionava:

Adiantaria dormir mais horas e não ver aquele filme que tanto gostava ou seria melhor ir trabalhar com olheiras no dia mas inspirada no seu filme favorito? Não se sentiria mais feliz?

Não seria melhor calçar sapatos rasos, menos elegantes, mas poder brincar no parque com o seu sobrinho à vontade? Não valeria o sorriso dele mais do que a elegância de uns saltos altos?

E aquele rapaz que tinha conhecido? Era simpático…  mas era prazeroso o suficiente na sua vida para ficar triste? Talvez não valesse tanto a pena.

                Ana respondia a todas as questões metendo-as à prova na sua balança.


                Era por isso uma pessoa feliz, por ter uma boa balança interior, das que pesavam com carinho, sem pressas.

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