domingo, 30 de novembro de 2008

Melodia à chuva

Pronta a sair de casa vestia o casaco por cima do vestido de lã pueril.
Chovia.
No chão, as folhas mortas por um Outono ventoso escorregavam nas botas molhadas.
Acendeu um cigarro enquanto esperava que o sinal abrisse e apanhasse um Táxi.
Chovia.
"-Para a Praça da Alegria, por favor"
Chovia e ela só se lembrava daquela melodia sedutora que a inspirara na noite anterior.
Tinha de voltar.
Tinha d' ouvir outra vez.
O táxi parou.
Subiu o resto da rua rumo ao seu destino a pé.
Parou à porta a saborear o som por instantes e entrou.
Desceu as escadas.
Como sempre,

Cheio daquele silêncio sedoso
De ouvir mais, sentir mais.
Tirou o casaco e poisou-o junto da mala no chão.
Lá estava inerte como ela ansiava.

Fechou os olhos e ficou a ouvir.
Deixou-se envolver.

De olhos fechados olhavam-se por entre as pessoas e as notas soltas que os mantinham Distantes.


A melodia escorrida balançava-lhe o corpo suavemente
De olhos fechados estavam os dois sós
E ele tocava para ela.

Tocava para ela,
Aquela que ela trauteava vezes humanamente incontáveis
E continuava a tocar repetida como uma faixa de um cd riscado


Abriu os olhos,
Já era de dia
O sol entrava pela janela da sala e batia-lhe na cara revoltada contra o braço do sofá.
Vestia descalça o vestido de lã , as botas secas jogadas no chão, imunes à chuvada da Noite anterior.
No ar a mesma melodia com que sonhara toda a noite e nela, ele. Perdido.
Tinha de voltar.
Tinha d'Ouvir outra vez.
Voltou a fechar os olhos.
Voltou a vê-lo.
E no meio de tanta gente, sós de olhos fechados, ele voltou a tocar para ela.


A música que inspiradora? Less Tension Please,
see: http://valsaparaaterri.blogspot.com/



Nenhum comentário: